Professor Mediador
Encontrar o elo que relaciona o conhecimento aprendido em sala de aula com o conhecimento de vida, trazido de fora dos muros, não é tarefa fácil para o estudante. Por isso, torna-se relevante a figura mediadora do professor.
Trechos da dissertação:
A Educação Socioconstrutivista é embasada em uma educação que leve o aluno a pensar por si e a construir seu próprio conhecimento. Não basta entregar o conceito pronto, mas utilizar-se de ferramentas que auxiliem na construção de um pensamento crítico diante dos conceitos, buscando formas de conexão com a vida do indivíduo. Em uma perspectiva humanista, esse ensino é pautado no desenvolvimento de cidadãos atuantes crítica e conscientemente em sociedade, e o professor participa dessa didática como mediador.
É neste sentido que consiste a intervenção e o papel do professor na prática educativa. Sem dúvida, através de suas orientações, intervenções e mediações, o professor deve provocar e instigar os alunos a pensarem criticamente e a se colocarem como sujeitos de sua própria aprendizagem. (BULGRAEN, 2010, p. 34-35).
A mediação, dessa forma, é realizada pelo professor em sala de aula e ocorre não apenas pelo levantamento de questões, mas por meio de “ferramentas mediadoras” que são os recursos didáticos disponíveis a serem utilizados nessa educação socioconstrutivista.
Mediação docente: Vygotsky, Morin, Bakhtin e Freire
Em suma, para a consolidação de uma Educação Socioconstrutivista aqui analisada, percebemos o quão é essencial o papel do professor mediador. A figura do mediador educacional funciona como uma ponte primordial para unir o elo entre aluno e conhecimento. Essa mediação docente ocorre principalmente na Zona de Desenvolvimento Potencial (ZDP), tendo em conta tanto o desenvolvimento potencial do aluno (aquilo que pode ser aprendido com terceiros), quanto o desenvolvimento real (aquilo que pode ser aprendido sozinho, absorvido pelo meio), como proposto por Vygotsky. É na ZDP que o professor mediador atuará em sua prática docente, estimulando a busca de cada aluno por sua própria aprendizagem, mediando conhecimentos técnicos e vivências.
É por meio dos instrumentos e signos que o professor instigará essa busca, apontando nesse processo de aprendizagem a complexidade em que se interligam todas as disciplinas e conteúdos, expondo os alunos às diversas formas de conhecimento, de forma que haja uma conexão entre o aprendido e o vivido – o chamado Pensamento Complexo, segundo Morin. Não basta se ter um vasto arsenal de conhecimentos isolados se o indivíduo não os conecta e percebe essa complexidade inter/trans/metadisciplinar, relacionando-os concomitantemente com seu próprio cotidiano. Todos os conhecimentos se interligam e esses vínculos são construídos no pensamento complexo e estimulados na mediação docente.
Além de a intermediação ocorrer na própria ZDP (Vygotsky) e levar em consideração a cadeia de conexões do Pensamento Complexo (Morin), o professor mediador deve esquadrinhar a heterogeneidade de enunciados (discursos) não apenas nas diversas séries, como também em uma mesma sala de aula para o desenvolvimento pleno da aprendizagem. Cada ser é único e essa diversidade deve ser levada em consideração no processo de ensino e aprendizagem. Como posto por Bakhtin, temos uma polifonia de enunciados em uma mesma sala e que pode variar também em cada aula, uma vez que cada indivíduo está imerso em vivências diferentes a cada dia.
Assim, cada aula preparada pelo professor e cada turma carrega em si o dialogismo das particularidades trazidas de fora para dentro dos muros escolares. Dificilmente uma aula é igual a outra, mesmo que seja ministrada seguidamente, pelo fato de serem turmas compostas por indivíduos diferentes. O mesmo pode ser percebido dentro da própria turma, onde cada um tem seu próprio ritmo e modo de aprendizagem.
O mediador, de forma dialógica e polifônica (Bakhtin), leva os alunos não somente a relacionarem conhecimento científico e conhecimento de vida, como também a questionarem as informações recebidas (Freire), afim de desenvolver o pensamento crítico diante dos fatos vivenciados e protagonismo social ativo, incitado pela pedagogia freiriana. Não basta expor conteúdos, requerendo memorizações para realização de exames que serão relegados ao esquecimento assim que outra avaliação for marcada, a escola não deve ser apenas um espaço onde se prepara o jovem para o mercado de trabalho. Os muros escolares são um espaço de vivências únicas e essa interação social deve os preparar para a vida como um todo. É importante mostrar que o conhecimento é um processo individual e particular, instigando uma nova perspectiva de pensamento crítico aos alunos e como estes podem ser cidadãos atuantes e não meros peões que aceitam tudo sem questionar.
Considera-se, portanto, no processo educacional socioconstrutivista, o meio em que o aluno está inserido e sua bagagem conteudística, proporcionando maior motivação, participação ativa e problematização da matéria estudada em sala de aula em relação à realidade vivenciada por estes, para um desenvolvimento do senso crítico e atuação protagonista.
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